sábado, 16 de agosto de 2008

III - Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais - por Dr. Rodrigo Mabilia


Goldfish apresentando deformidade da coluna vertebral e emagrecimento acentuado atribuído a deficiência de aminoácidos essenciais na dieta.

Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais Por Rodrigo G. Mabilia - Médico Veterinário, Msc. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Parte III – Ictiopatologia Nutricional
Para finalizar esta série de artigos referentes a Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais disponibilizaremos uma lista com as principais doenças causadas por desordens nutricionais.
1.0 Problemas Nutricionais relacionados as Proteínas.
Nos peixes o desbalanço de aminoácidos na dieta alimentar pode ser atribuído tanto pelo excesso como pela deficiência de alguns aminoácidos essenciais. As conseqüências diretas refletem-se sobre os baixos índices produtivos e aumento nas taxas de mortalidade, principalmente na fase de alevino. Entre os sinais clínicos sugestivos de deficiências de aminoácidos destaca-se as deformidades de coluna vertebral, nadadeiras, opérculos e opacidade dos olhos.
O DESBALANÇO DE AMINOÁCIDOS
Os aminoácidos mais associados as deficiências em peixes são: a lisina, metionina, triptofano, leucina, arginina e histidina. A excreção nitrogenada dos peixes pode ser influenciada tanto pelos níveis protéicos como pelo desbalanço de aminoácidos da dieta alimentar. Trabalhos recentes comprovaram alterações nas taxas de excreção de amônia e uréia em peixes cultivados. Em trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss), por exemplo o excesso do aminoácido arginina na dieta foi capaz de promover nesta espécie um aumento da amônia plasmática e de uréia. Esta alteração metabólica acarretou em uma diminuição da taxa de crescimento promovida pelo maior gasto de energia para eliminação destes metabólitos. As desordens nutricionais atribuídas a proteínas e aminoácidos estão muito relacionadas a alterações da excreção nitrogenada e já identificam-se hoje diversas espécies de peixes que são capazes de realizar o ciclo da uréia sob condições alimentares e ambientais especificas. Em traíras (Hoplias malabaricus) a indução do ureotelismo já foi comprovada em pesquisa como uma resposta adaptativa desta espécie frente a uma condição adversa.
SINTOMAS CAUSADOS PELA DEFICIÊNCIA DE AMINOÁCIDOS
- Deficiência de Lisina: lordose e erosão de nadadeiras.
- Deficiência de Metionina: catarata com opacidade dos olhos.
- Deficiência de Triptofano: escoliose, lordose, catarata e erosão da nadadeira caudal.
- Deficiência de Leucina, Arginina e Histidina: lordose

Acará disco com erosão e degeneração das nadadeiras associada a deficiência nutricional. Caso clínico resolvido em poucos dias com o oferecimento de uma ração balanceada.

Um exemplar de alevino de carpa com uma grave deformidade na coluna vertebral, além de perda da resistência das escamas. Caso clínico também associado a deficiência de aminoácidos essenciais na dieta.
SINTOMAS CAUSADOS PELA INTOXICAÇÃO POR AMINOÁCIDOS
- Excesso de Leucina: escoliose, deformação de opérculos e deformação de escamas.
2.0 Problemas Nutricionais relacionados aos Lipídeos.
- Deficiência, ou Excesso de Ácidos Graxos Essenciais na Alimentação: diminuição do crescimento e da eficiência alimentar.
3.0 Problemas Nutricionais relacionados aos Minerais. - Deficiência de fósforo: redução de crescimento e ganho de peso, desmineralização óssea e aumento do conteúdo adiposo dos músculos.
NOTA TÉCNICA: Estudos em guppies revelaram que a deficiência de fósforo na dieta está associada a perda do apetite, deformidades de coluna (escoliose e lordose).
- Deficiência de cálcio: deficiências de cálcio não são comuns, pois os peixes podem extrair até 85% do cálcio contido na água. No entanto quando ocorre causa perda do apetite e crescimento reduzido.
- Deficiência de Potássio: perda do apetite, redução do crescimento e ganho de peso.
- Deficiência de Magnésio: perda do apetite, crescimento e ganho de peso reduzidos, flacidez muscular, aumento da taxa de mortalidade.
- Deficiência de Ferro: perda do apetite, redução de crescimento e Peso, anemia, catarata e erosôes das nadadeiras.
- Deficiência de Manganês: perda do apetite, catarata, crescimento anormal da nadadeira caudal. - Deficiência de Cobre: redução de crescimento e catarata.
- Deficiência de Selênio: aumento da taxa de mortalidade, distrofia muscular, rescimento reduzido, catarata e anemia.
- Deficiência de Iodo: hiperplasia da tireóide e redução do crescimento.
4.0 Problemas Nutricionais relacionados as Vitaminas.
AS DEFICIÊNCIAS VITAMINICAS
As vitaminas são substâncias orgânicas de extrema importância para o crescimento, saúde, reprodução, mas são requeridas em pequenas quantidades na dieta. Cada vitamina possui uma função específica no organismo e a ausência, ou deficiência de uma não pode ser substituída, ou compensada por outra. Voltaremos nossas atenções para o efeito da vitamina C sobre o crescimento e imunidade dos peixes, uma vez que está é constante objeto de estudo na nutrição de peixes. A manifestação da deficiência de vitamina C na dieta de peixes manifesta-se através dos seguintes sinais clínicos: perda do apetite, redução de crescimento, diminuição da imunidade, anemia microcítica normocrômica e magaloblástica, produção desordenada de colágeno, cicatrização prolongada, cartilagem retorcida, escoliose e lordose, hemorragias externas e internas, erosões e perda de escamas, além de causar mortalidade elevada.
Diversos estudos sobre a deficiência e suplementação de Vitamina C na dieta já foram conduzidos em peixes. É consumado que ela aumenta a resistência dos peixes mediante a agentes estressores.
Os peixes suplementados com vitamina C na dieta suportam melhor as condições de transporte, apresentam maior resistência a choque osmótico durante a aclimatação e maior resistência a enfermidades.
A vitamina C é responsável pela manutenção da integridade dos tecidos de sustentação, biossíntese de colágeno e cartilagem, integridade capilar; melhora da imunidade.
A vitamina C é hidrossolúvel e seu incremento na ração deve ser realizado em fórmulas estabilizadas para que esta não seja perdida para o meio ambiente por lixiviação. A fórmula estabilizada mais usual são as fosfatadas como o caso da L-ascorbyl-polifosfato (LAPP).
Estudos recentes de suplementação com vitamina C em Lateolabrax japonicus identificaram efeitos significativos sobre o crescimento e imunidade favoráveis para os grupos que receberam os maiores níveis desta vitamina justificando a sua importância e aplicação na alimentação de peixes.
OS SINTOMAS CAUSADOS PELA DEFICIÊNCIA DE VITAMINAS
Deficiência de Ácido Ascórbico (Vitamina C): perda do apetite, redução de crescimento, diminuição da imunidade, anemia microcítica normocrômica e magaloblástica, produção desordenada de colágeno, cicatrização prolongada, cartilagem retorcida, escoliose e lordose, hemorragias externas e internas, erosões e perda de escamas, além de causar mortalidade elevada.
NOTA TÉCNICA 2: Diversos estudos sobre a deficiência e suplementação de Vitamina C na dieta foram já conduzidos em peixes ornamentais. Grupos de Oscars, Acarás Bandeiras e Guppies apresentaram maior resistência a agentes estressores quando comparados a grupos destes mesmos peixes sem suplementação de vitamina C na dieta.
Peixes suplementados com vitamina C na dieta suportam melhor as condições de transporte, apresentam maior resistência a choque osmótico durante a aclimatação e maior resistência a enfermidades.
Em alevinos de Acarás bandeiras, por exemplo, níveis ótimos acima de 320mg de vitamina C foram necessários para o máximo de estocagem tecidual. Estes dados sugerem a todos nós dar preferência a rações que possuam níveis elevados de vitamina C na sua formulação.
Deficiência de Ácido Pantotênico (B3): redução de crescimento e peso, anorexia, obstrução branquial, exoftalmia, natação anormal e aumento da mortalidade.
Deficiência de Piridoxina (B6): redução do crescimento, desordens nervosas, hiper-irritabilidade, natação irregular, perda de equilíbrio, perda de escamas, anorexia baixa taxa de conversão alimentar, redução de crescimento.
Deficiência de Riboflavina (B2): redução de crescimento e peso ,anorexia, opacidade da córnea (catarata), hemorragias nos olhos, narinas e opérculo, nado irregular. Fotofobia, mudanças de coloração (escurecimento) e taxa de mortalidade elevada. Deficiência de Cianocobalamina (B12): redução de crescimento, anemia microcítica hipocrômica e megaloblástica, anorexia, pigmentação escura.
Deficiência de Tiamina (B1): redução de crescimento e peso, anorexia, opacidade da córnea, movimentação sinuosa, síndrome da curvatura do tronco, degeneração vascular e hemorragia nas nadadeiras, transtornos nervosos e mudanças de coloração.
Deficiência de Biotina: redução de crescimento e peso, anorexia, diminuição da atividade, natação anormal, mortalidade elevada.
Deficiência de Ácido Fólico: anemia macrocítica normocrômica, redução de crescimento e peso, anorexia, letargia e perda gradual de coloração.
Deficiência de Niacina: redução de crescimento e peso, perda do apetire, mudança de coloração (despigmentação), hemorragia na pele, hipersensibilidade a luz solar, vulnerabilidade a queimaduras solares, natação anormal, mortalidade elevada.
Deficiência de Vitamina E (Tocoferol): redução do crescimento, perda do apetite, anemia, ascite, cerosidade do fígado, baço e rins, arcos brânquiais retorcidos, distrofia muscular, diminuição da imunidade, edema no pericárdio, fragilidade das hemácias.
Deficiência de Inositol: redução de crescimento, anorexia, hemorragia nas nadadeiras, pele e perda da mucosa e coloração escura..
Deficiência de Vitamina A (retinol): redução de crescimento e peso, ascite (barriga dágua), edema, exoftalmia, degeneração da retina, anorexia e despigmentação, hemorragia renal e aumento da mortalidade.
Deficiência de Vitamina D3: redução de crescimento e peso, anorexia, elevado conteúdo lipídico no fígado e músculos, baixa concentração de hemoglobina e diminuição da relação hepatossomática.
Deficiência de Vitamina K3: retardo no tempo de coagulação, anemia, hemorragia branquial, ocular, na pele e em tecidos Vasculares.
Visualização de deformidade de nadadeiras atribuída a problemas na síntese de colágeno pela deficiência de vitamina C na dieta.
Visualização de células sangüíneas de peixe. Hemáceas nucledas caracterrísticas dos peixes e uma únuca célula de defesa ao centro. Diversas deficiências vitamínicas ocasionam anemias e baixa da imunidade predispondo os peixes a diversas enfermidades.
HIPERVITAMINOSES
Os peixes acumulam vitaminas lipossolúveis quando as quantidades ingeridas ultrapassam as necessidades metabólicas. Uma acumulação muito elevada pode causar um estado tóxico: HIPERVITAMINOSE.
Hipervitaminose A: diminuição do crescimento, alterações hematológicas, necrose e erosão de nadadeiras, escoliose, lordose, fígado gorduroso e aumento da mortalidade.
Hipervitaminose D: diminuição do crescimento, letargia e coloração escura.
Hipervitaminose E: alterações hematológiccas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AI, Q.; MAI, K.; ZHANG, C.; XU, W.; DUAN, Q.; TAN, B. LIUFU, Z. Effects os dietary vitamin C on groeth and imune response of Japanese seabass, Latelobrax japonicus. Aquaculture 242: 489-500, 2004. ALTINOL, I.; GRIZZLE, J. M. Excretion of ammonia and urea by phylogenetically diverse fish species in low salinities. Aquaculture 238: 499-507, 2004. CHONG, A. S. C.; ISHAK, S. D.; OSMAN, Z.; HASHIM, R. Effect of dietary protein level on the reproductive performance of female swordtails Xiphophorus helleri (Poeciliidae). Aquaculture 234: 381-392, 2004. ENGIN, K.; CARTER, C.G. Ammonia and urea excretion rates of juvenile Australian short-finned eel (Anguilla australis australis) as influenced by dietary protein level. Aquaculture 194: 123-136, 2001. FOUNIER, V.; GOUILLOU-COUSTANS, M. F.; MÉTAILLER, R.; VACHOT, C.; MORICEAU, J.; DELLIOU, H. L.; HUELVAN, C.; DESBRUYERES, E.; KAUSHIK, S.J. Excess dietary arginine affects urea excretion but does not improve N utilization in rainbow trout Oncorhynchus mykiss and turbot Psetta maxima. Aquaculture 217: 559-576, 2003. IBRAHIM, E. H. a review of some fish nutrition methodologies. Bioresource Technology 96: 395-402, 2005. Mabilia, R.G.; Souza, S.M.G.; Braccini, Neto.J.; Barcellos, L.G. The relation between length and mounth size in Rhamdia fish. IX WORLD CONFERENCE ON ANIMAL PRODUCTION, 2003. MORAES, G.; POLEZ, V. L. P. Ureotelism is inducible in the neotropical freshwater Hoplias malabaricus (Teleostei, Erythrinidae). Braz. J. Biol. V. 64, N°2. 2004. Nutrient Requeriments of warmwater fishes and shellfishes, Washington: Revised edition. National Academy Press, p. 101, 1983 SALES, J.; JANSSENS, G. P. J. Nutrient requeriments of ornamental fish. Aquat. Living Resour. 16: 533-540, 2003.

Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais Por Rodrigo G. Mabilia - Médico Veterinário, Msc. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Breve Histórico:
2002/2006 - execução de Projetos e Assistência Técnica em Piscicultura Ornamental e Aquarismo pela DeltaSul Aquacultura ltda.;
2003/2006 - atuou no AQUAVET (Laboratório Integrado de Diagnóstico de Patologias de Animais Aquáticos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul);
2005-2006 - integrante da Equipe da AQUARIUM Alimentos e Acessórios para Aquarismo; 2003/2007 - Consultor, Professor e Responsável Técnico da Estação de Aqüicultura da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra-RS);
2006-2007 - Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul atuando na sanidade de Animais Aquáticos * Rodrigo Mabilia atualmente é Médico Veterinário, Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura atuando na Divisão de Pescado no Estado de Santa Catarina.









Um comentário:

jbadu disse...

Gostaria de saber se ha tratamento para escoliose pois tenho duas carpas com uns 15 cm e estao apresentando pequenas deformacoes na coluna.